A <i>EDP</i> tem que pagar mais
Enquanto a EDP decidia pagar mais de 621 milhões de euros aos accionistas, a Fiequimetal/CGTP-IN defendia que «a riqueza tem que ser melhor distribuída por aqueles que trabalham para a criar».
Há três vias concretas que deixam «sempre os mesmos a perder»
A assembleia geral, reunida na nova sede da eléctrica no Porto, aprovou a proposta da administração para que, por cada acção, fossem pagos 17 cêntimos. No total, são 621 milhões e 600 mil euros que vão direitinhos às contas dos accionistas, por conta dos resultados obtidos em 2010.
No exterior das instalações, a Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgica, Química, Farmacêutica, Eléctrica, Energia e Minas reuniu meia centena de representantes dos sindicatos da CGTP-IN nas empresas do Grupo EDP, para deixar claro que recusa dar por encerradas as negociações salariais e para – num folheto que distribuiu à comunicação social e aos transeuntes – apresentar publicamente os argumentos em defesa da reivindicação que mantém: os aumentos dos salários têm que ser superiores aos 1,79 por cento que a empresa decidiu. «No processo de revisão salarial de 2011, a EDP obteve o "sim" de outras estruturas para aquilo que quis e quando bem entendeu», «mas a cada dia que passa fica mais evidente como foi justa a decisão da Fiequimetal de não ceder e de persistir na exigência de uma actualização salarial melhor para os trabalhadores» – afirma-se no documento, intitulado «A crise de quem trabalha é o lucro dos accionistas».
Crise?
A federação salienta que «na EDP não há crise», rejeitando assim os argumentos da administração para não aceitar aumentos salariais mais justos, tanto para este ano, como já para 2010. Em ambas as ocasiões, viu-se que «esta crise só dura até à Assembleia Geral de Accionistas, onde são revelados os resultados anuais». Estes mostraram «contas bem diferentes»:
- «lucros de 1168 milhões de euros e dividendos de 566 milhões, em 2009»;
- «lucros de 1235 milhões, com dividendos de 621 milhões, em 2010»;
- «e mais de 24 milhões para os sete administradores, em prémios e ordenados, naqueles dois anos!»
«Para colocar mais milhões no lado dos lucros, a EDP retira o que pode aos trabalhadores», protesta a Fiequimetal, lembrando que «a procura do ganho máximo foi um objectivo da actividade da empresa que resultou da política de privatização» e que «a actuação da administração conta com o aplauso dos accionistas privados e a cobertura total do Governo».
No folheto são apontadas três situações que deixam «sempre os mesmos a perder»:
- a elevada produtividade não tem reflexo nos salários.
- a EDP, com a redução continuada de pessoal e a entrega de serviço a entidades exteriores, tem promovido emprego precário, com salários baixos e sem direitos, através de empresas que não garantem habilitações e formação nem dão valor à qualificação. A Fiequimetal afirma que nos call-centers e nas lojas comerciais já há quem ganhe menos de 400 euros por mês!
- também a «frenética criação, aquisição, fusão, extinção e alienação de empresas gera grande instabilidade entre os muitos trabalhadores envolvidos» e «acaba por ser uma forma de a EDP admitir pessoal que deixa excluído da aplicação do Acordo Colectivo de Trabalho».
Persistência
«Resistir e lutar» é o caminho apontado pela comissão negociadora sindical da Fiequimetal na EDP. «Com PEC e mais sacrifícios, as injustiças agravam-se e os problemas da economia e das pessoas não se resolvem» e os trabalhadores da eléctrica, «tal como todos os outros, sentem na pele os efeitos desta situação, conhecem as causas e os responsáveis, e não podem aceitar que isto seja inevitável».
A mobilização dos trabalhadores nos tempos mais próximos vai ter dois propósitos: «exigir que não haja apenas mudança de governantes, mas uma efectiva ruptura com a política das últimas décadas; e «exigir que as negociações salariais prossigam e que haja melhores salários em 2011 para todos os que trabalham nas empresas do Grupo EDP».
Um dirigente da federação, citado pela agência Lusa, explicou que «todas as hipóteses, incluindo a greve, estão em cima da mesa».
Números claros
A Fiequimetal reproduz, no documento distribuído no Porto, «números que mostram bem como a crise passa ao lado da EDP e comprovam que a empresa pode negociar melhores aumentos salariais ainda em 2011».
Destaca-se os «lucros milionários», que comparam com a inflação oficial e com os aumentos das tarifas (ver quadro). Seguem-se os crescentes dividendos para os accionistas, desde 2007 (457 milhões, 512 milhões, 566 milhões e 621 milhões). E recorda-se ainda a saída de trabalhadores: 442, em 2007; 496, em 2008; e 475, em 2009.
Lucros milionários